Giselle Ferreira, nascida em Brasília, é professora de carreira da Secretaria de Educação do DF. Tomou posse em janeiro de 2023, após passar pelo comando da Secretaria de Esporte e Lazer. Pós-graduada em Política de Representação Parlamentar, ela é membro da Women’s Democracy Network (WND), que capacita mulheres em todo o mundo com o conhecimento de que “Você também pode fazer isso!”
Mãe de uma menina, o empoderamento feminino sempre esteve em pauta, principalmente no âmbito da representação política. A atuação das mulheres no legislativo guiou boa parte de sua trajetória profissional, onde traçou como um de seus objetivos a conscientização e participação de mulheres nesta questão.
“Meus pais sempre tiveram comércio na área empresarial e no voluntariado, sempre estiveram no meio da sociedade e eu convivi com isso. Eu era a filha mais nova de três irmãos e sempre os acompanhava”, disse Gisele, compartilhando um pouco de sua infância.
Mulheres na Política
Durante a conversa, o jornalista Marcos Alexandre falou sobre o machismo cultural e o motivo pelo qual, mesmo as mulheres sendo maioria hoje, elas ocupam poucos lugares na política. Para Giselle, existe ainda um julgamento muito enraizado sobre a imagem da mulher, o que dificulta que ela alcance certos lugares dentro da política. “É um machismo ainda patriarcal e a gente está começando a mudar isso, mas ao mesmo tempo, tem uma pesquisa que saiu na Folha de São Paulo: as pessoas falam que as mulheres têm que participar mais da política, de acordo com essa pesquisa, e 90% das mulheres que se candidataram a vereadoras e prefeitas sofreram perseguições e ameaças na própria internet. Então, o mundo ainda diz que para ela ser candidata, a mulher tem que aceitar que estará em um ambiente masculinizado na questão da política, mas ao mesmo tempo, ela não tem tanto apoio”, declarou.
Ela ainda completou que existe machismo muitas vezes por parte da mulher, pois ela foi criada em uma sociedade com um racismo enraizado. “A mulher é machista, ela foi criada numa sociedade onde em ‘briga de marido e mulher não se mete’, tinha essa expressão e tinha a expressão de que a mulher tem que ficar em casa e o homem que tem. Então, a gente precisa mudar essa sociedade e essa sociedade está mudando, as mulheres estão mudando. Eu acredito que tem mudado cada vez mais a visão e estamos aumentando a questão da participação das mulheres na política. Mas ainda é difícil porque quem ainda comanda o fundo partidário, quem ainda tem o poder, a maioria são homens”.
Feminismo Ideológico
Marcos apontou que o feminismo tem sido banalizado com ações que não condizem com o verdadeiro feminismo, que é a luta das mulheres por direitos. Ele deu como exemplo mulheres que fazem protestos nuas ou defecam em crucifixos.
Gisele declarou que toda pauta tem seu grupo de extremismo e que ações como essa são de uma minoria. Ela afirmou que o feminismo precisa existir para garantir mais espaços para as mulheres. “Tem que ter o feminismo, sim, nesse sentido de luta e busca de espaço. Tão importante que a gente já declarou. Eu acredito que essas questões pontuais são pontuais, que você relatou, não só da pauta da mulher, mas de qualquer pauta LGBT, que mais tem extremismo das minorias, tem extremismo do machismo, tem extremismo de todas essas pautas da minoria. Mas que não devem e não vão acabar com o feminismo. Nós temos que ser femininas aquelas que querem ser. A mulher tem que estar onde ela quiser estar, se quiser estar no futebol, ela vai estar; se quiser estar na política, ela vai estar; se quiser estar dentro de casa com os filhos, ela vai estar. Essa é a pauta que eu defendo, esse é o feminismo que tem que ir sim para a rua”, afirmou.
Agressão à Mulher e a Revolução da Lei Maria da Penha
Foi levantado pelo apresentador os grandes números de casos de feminicídio, especialmente no Distrito Federal. “A sociedade está doente, o homem não aceita o fim de um relacionamento, o homem não aceita que a mulher continue sua vida e não queira mais se relacionar, é um ciúme doentio, então a gente precisa entender”, destacou.
A Secretária destacou que a secretaria tem desempenhado políticas públicas para tratar o comportamento do homem. “Esses sinais precisam ser tratados, e é nesse espaço que a gente também está tratando o homem, aqueles que eram encaminhados pela justiça agora vão ser de forma espontânea, homens que se sentem propensos a cometer uma agressão potencial. Estamos fazendo divulgação, já temos oito núcleos, a maioria ainda é encaminhada pelo sistema de justiça, que tem que cumprir, nós já temos testemunhas e algumas pessoas que passaram por esse grupo reflexivo e se tornaram outros homens”, ressaltou Giselle.
“O Feminicídio não escolhe suas vítimas”
“É importante destacar que o feminicídio, a gente sabe que a maioria é de pessoas de baixa renda, mas ele não escolhe local, não escolhe renda. Então, a gente precisa mudar essa sociedade. Temos trabalhado na política junto com os homens, temos trabalhado essa capacitação das mulheres, temos ido para escolas, mas a gente também precisa envolver toda a sociedade porque a gente não consegue colocar um policial em cada casa, os crimes acontecem dentro do ambiente familiar”, declarou a secretária.
Aborto uma questão de saúde pública
O jornalista Marcos Alexandre abordou um debate que persiste há mais de duas décadas no Brasil: o tema do aborto. Ele mencionou a autorização atual para o aborto em três casos específicos no país e trouxe à tona o recente debate, principalmente liderado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), sobre a possibilidade do aborto até 12 semanas de gestação. Há uma divisão entre o Congresso Nacional e o STF quanto a essa pauta, com a opinião pública expressando diferentes posicionamentos. Marcos também contextualizou a situação mencionando políticas da Argentina em relação ao controle familiar e à saúde da mulher, destacando a discrepância com a situação no Brasil, onde mulheres recorrem a clínicas clandestinas e correm riscos de vida. Ele direcionou a pergunta para a secretária Giselle Ferreira, indagando sua posição sobre o aborto.
A secretária destacou a importância de uma abordagem transversal em suas responsabilidades, trabalhando em conjunto com diferentes secretarias, como Saúde e Educação. Ela mencionou que a questão do aborto já está prevista na legislação de saúde e enfatizou que a discussão sobre as 12 semanas de gestação é mais política do que relacionada à saúde pública. Giselle defendeu a importância de focar na saúde pública, especialmente em meio à pandemia, destacando que as regulamentações sobre o aborto já estão aprovadas para casos específicos, como estupros e riscos à vida da mulher.
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