Apenas 28% das secretarias estaduais e municipais são ocupadas por mulheres no Brasil

09_07_2020_teletrabalho-6
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Censo revela desigualdade de gênero nas administrações públicas e sugere a necessidade de políticas de paridade.

Um estudo recente, o primeiro Censo das Secretárias, realizado pelos Institutos Aleias, Alziras, Foz e Travessia Políticas Públicas com o apoio da Fundação Lemann e Open Society Foundations, revelou que apenas 28% dos cargos de secretariado nos governos estaduais e nas capitais brasileiras são ocupados por mulheres, totalizando 341 secretárias no país. O censo analisou 698 órgãos estaduais e 536 municipais, focando nas secretárias que exerceram suas funções entre novembro de 2023 e março de 2024. Durante esse período, apenas Natal e três estados — Alagoas, Pernambuco e Ceará — conseguiram atingir a paridade de gênero, enquanto 20 estados e 16 capitais não alcançaram nem 30% de representação feminina em seus secretários.

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O estudo aponta que as mulheres estão mais presentes em pastas sociais, com 53% nos estados e 44% nas capitais. No entanto, sua participação em áreas estratégicas como infraestrutura (22% nos estados e 18% nas capitais), órgãos centrais (18% em ambos) e economia (15% nos estados e 30% nas capitais) continua limitada. Segundo as entidades que conduziram o censo, a predominância feminina em setores como assistência social, saúde e educação reflete uma segregação horizontal, que restringe o acesso a áreas mais técnicas, como tecnologia e engenharia.

A inclusão da autodeclaração racial no levantamento permitiu traçar o perfil racial das secretárias. Os dados mostram que 57,4% se identificam como brancas, 37,8% como pretas ou pardas, 3% como indígenas e 2% como amarelas. A pesquisa também revela que 43% das secretárias possuem algum tipo de especialização, 26% têm mestrado e 10% concluíram doutorado, com um percentual ainda mais elevado entre mulheres negras: 44% têm especialização e 32% têm mestrado.

Embora 66% das secretárias possuam mais de 21 anos de experiência profissional e 61% tenham passado a maior parte de suas carreiras no setor público, o censo revela que 50% dessas mulheres estão ocupando o cargo de secretária pela primeira vez. Isso sugere uma recente entrada de mulheres nessas posições, mesmo entre aquelas com alta qualificação.

Além disso, o levantamento indica uma sub-representação de mulheres com deficiência, com apenas 1,3% se autodeclarando nessa condição. Quase metade das secretárias tem algum vínculo partidário, e uma em cada cinco já atuou como dirigente de partido. O censo ainda destaca que 23% das secretárias negras mencionaram a influência do ativismo feminista em suas trajetórias, em comparação a 9,8% das brancas.

Com relação ao futuro no setor público, 77% das secretárias manifestaram a intenção de continuar trabalhando em políticas públicas, mas apenas 17% demonstraram interesse em se candidatar a cargos eletivos.

Diante desse cenário de desigualdade, as entidades recomendam a criação de uma lei de paridade de gênero nos secretariados, o aprofundamento de pesquisas sobre a relação das secretárias com os partidos políticos, e o mapeamento de estruturas existentes para apoiar mulheres em cargos de liderança. A segunda etapa do censo está prevista para novembro e abordará questões relacionadas ao trabalho doméstico e à violência política de gênero e raça.

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