Imparcial na TV recebe o modelo Adriano Lugoli: “Não aceito mais o racismo”

Ele enfrentou as adversidades das ruas, o preconceito e o vício em crack, conquistando os principais palcos das passarelas brasileiras
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O Imparcial na TV desta semana recebeu o ator e modelo Adriano Lugoli, que falou sobre superação e novos começos. Adriano atualmente é modelo, ator e influenciador, mas tem uma história de vida marcada por superação e grandes desafios. Ele enfrentou as adversidades das ruas e o vício em crack, conquistando os principais palcos das passarelas brasileiras.

Nascido em Uberlândia, Adriano perdeu o pai aos seis meses de idade. Foi criado pela mãe e seus irmãos. Devido à sua cor, enfrentou rejeição por parte dos colegas na escola, sofrendo muito racismo na infância e adolescência. Cresceu odiando sua cor. “Perdi meu pai cedo, com 6 meses. Meu pai deixou meu irmão com 3 anos e minha irmã com seis. Minha mãe criou a gente com muita dificuldade, mas com muito amor. Tinha muito amor dentro de casa apesar das dificuldades. No primeiro choque ao sair de casa, aos 6 anos, para ir à escola, sofria muito preconceito. Foi um choque entre o amor que vivia em casa com minha mãe e a resistência dos professores, diretores e colegas. Fui vítima de racismo que acabou entrando no meu coração e me prejudicando até a adolescência”, contou.

Encontro com as drogas

Adriano descreveu um período difícil de três anos em que viveu nas ruas, comparando sua situação à de uma Cracolândia. “Vivi 3 anos na rua como um zumbi, pedindo, sujo e muito mal, enquanto minha mãe tentava me ajudar.”

Ele relata que a virada em sua vida aconteceu quando sua irmã percebeu que o vício era uma doença e procurou casas de recuperação. A primeira tentativa foi em sua cidade, Uberlândia, porém, sem sucesso devido às pessoas que ele conhecia lá. Finalmente, encontraram uma casa em Luziânia, que marcou o início da transformação de Adriano em Brasília.

Decidindo não voltar para Uberlândia, Adriano permaneceu na casa de recuperação. Lá, ele e os colegas vendiam mel para casas e ônibus, usando roupas doadas. Com o tempo, ele começou a querer comprar suas próprias roupas e comer o que tinha vontade, reaprendendo a viver e a presentear sua família. “Comecei a querer ir a uma loja comprar uma roupa, comer o que eu tinha vontade. Foi um processo de reaprendizado, de dar presentes para minha mãe e minha família. Depois desses meses, saí de lá, me casei e me tornei pai.”

Do vício ao estrelato

Marcos Alexandre questionou como foi o encontro com o mundo artístico após sua recuperação. O modelo revela que, após sua ex-esposa engravidar do primeiro filho, fez um ensaio fotográfico. Mesmo sofrendo bullying por sua aparência, especialmente por ser negro retinto, decidiu enviar essas fotos para uma agência de modelos, incentivado por pessoas que acreditavam que ele tinha o perfil, apesar de não se ver como o ‘perfil ideal’. “Sofri bullying por causa do meu cabelo e dos traços de ser um negro retinto. Mesmo assim, levei essas fotos à agência e o pessoal gostou muito. Falaram que estavam procurando um negro com os meus traços retintos para fazer propaganda. Disseram que eu não faria passarela, mas eu queria. Com o tempo, comecei a fazer.” Adriano disse que nesse momento sua vida começou a mudar, com vários trabalhos e propagandas. “Na minha primeira grande passarela, minha história ficou conhecida.”

Racismo estrutural

Adriano revela que o racismo sempre esteve presente em sua vida, desde a infância até a vida adulta, e que teve que lidar com muitas pessoas preconceituosas para chegar onde está. “Falavam da minha cor, dos meus traços, e eu aceitava isso. Hoje, depois de passar pela casa de recuperação e entender como isso complicou minha cabeça, não aceito mais o preconceito. Hoje, resolvo.”

“Já passei por várias situações em lojas, com seguranças me seguindo.”

Adriano relata experiências frequentes de racismo em lojas e supermercados, onde seguranças o observam de forma desconfiada e o seguem enquanto ele faz compras. Mesmo abordando educadamente esses seguranças para questionar o comportamento, muitas vezes são confrontados com negativas ou justificativas frágeis. “Às vezes passo por situações em lojas e supermercados em que um segurança me segue, está olhando enquanto todo mundo está lá, no supermercado. Ele está olhando para mim, só para mim, observando, acompanhando. Já saí de situações assim em supermercados depois de resolver, também chorei pra caramba, falei ‘poxa por quê’. Não é comigo, é com o negro, não é uma coisa pessoal minha. O cara olhou pra mim e me colocou como alvo, é chato para caramba”, desabafou.

O jornalista perguntou ao modelo sobre como as coisas precisam mudar para acabar de vez com o racismo estrutural. Adriano destacou sua participação em uma propaganda com Ronaldo Fenômeno, onde gravou ao lado de diversas pessoas de diferentes etnias. Isso o levou a perceber e valorizar a rica pluralidade étnica do Brasil, ressaltando a beleza dessa diversidade. Ele enfatiza a importância de não apenas defender sua própria raça, mas valorizar todas as origens étnicas, entendendo que cada pessoa foi criada com suas diferenças por Deus.

Além disso, ele abordou que no meio artístico o racismo tem diminuído e que durante a sua infância existia uma falta de representatividade na mídia. Adriano não via figuras de destaque que se assemelhassem a ele, seja um galã ou um artista negro bonito, e isso o fez sentir a ausência de modelos que representassem sua identidade. Essa falta de referências diversas na mídia o deixava com a sensação de não pertencer, pois não havia modelos que refletissem sua própria imagem ou identidade cultural.

Carreira

Adriano relata sentir grande satisfação e orgulho ao ver suas campanhas publicitárias. “É muito gratificante ver as campanhas dos shoppings aqui de Brasília, os vídeos e propagandas. Recentemente, participei de uma no 7 de Setembro, que ficou exposta na Esplanada, bem gigante, passando por toda a Esplanada, na Praça dos Três Poderes Projetada. Aí os amigos filmam, tiram fotos e dão parabéns, não só para o modelo, mas para a história de superação e transformação.”

Confira o programa completo;

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