Pablo Vinicius, é psiquiatra e especialista em neurociências, alcançou o status de best-seller com mais de 21 mil cópias vendidas de suas obras. Filho de um carioca e uma baiana, ele se considera uma fusão entre disciplina e afeto, traços herdados de seus pais que moldaram uma personalidade focada na organização e na afetuosidade.
Durante a entrevista ele contou que segue uma rotina disciplinada, com horários precisos para dormir, treinar e escrever. Desde a adolescência, Vinicius demonstrou ser um jovem reflexivo, questionador e crítico, desafiando não apenas os professores, mas também o sistema educacional enquanto frequentava um colégio militar. À medida que crescia, desenvolveu uma personalidade forte e questionadora, que se tornou a essência de suas obras.
O psiquiatra compartilhou detalhes de sua jornada na medicina, revelando como uma tragédia pessoal o conduziu a seguir esse caminho. ‘Quando minha mãe faleceu, eu tinha 12 anos de idade. Lembro-me claramente do momento em que meu pai acordou aos gritos por causa dela, e eu corri para a sala. Ela sofreu um aneurisma e estava nos braços dele. Testemunhei aquela cena e, dois dias depois, ela faleceu no hospital. Foi nesse momento que decidi seguir a carreira de medicina. A partir da morte da minha mãe, senti uma motivação intensa para entender essas questões, cuidar das pessoas e evitar que passassem pelo mesmo sofrimento. Decidi, então, estudar medicina”, contou
“Foi ao estudar a psiquiatria que me apaixonei pela complexidade dos pacientes e pela possibilidade de intervir em momentos como na prevenção de ideações suicidas”, afirmou.
Essa mudança de foco direcionou sua carreira para a psiquiatria, e ao longo do tempo, expandiu suas áreas de atuação, tornando-se um neurocientista que une conhecimentos de diferentes disciplinas para entender melhor as doenças mentais. Pablo Vinicius, conhecido por suas obras críticas aos sistemas sociais, hoje se destaca como um profissional comprometido não apenas com a psiquiatria, mas também com uma abordagem holística no cuidado com a saúde mental. “Minha trajetória foi influenciada por uma perda pessoal, mas se transformou em um compromisso com a compreensão e a promoção da saúde mental”, concluiu o profissional.
Aumento dos problemas mentais na atual geração
O jornalista Marcos Alexandre trouxe à tona uma reflexão sobre a atual geração, levantando a questão da crescente importância das áreas de psicologia e psiquiatria no futuro. Em resposta, Pablo enfatizou a preocupação da comunidade de saúde mental com o aumento alarmante dos casos de suicídios entre crianças e adolescentes. “Nós da saúde mental estamos assustados e entristecidos com o que estamos presenciando. O aumento exponencial dos casos de suicídios nessa faixa etária é assustador. Crianças com 7, 8, 9, 10 anos, adolescentes… estamos vivendo uma realidade preocupante que muitos preferem não falar”, afirmou. Ele ainda destacou a importância de discutir abertamente o tema do suicídio, afirmando que falar sobre esse assunto não incentiva tais comportamentos, mas sim é fundamental para compreender e prevenir quadros depressivos e melancólicos graves. “Filhos doentes são um reflexo de uma sociedade doente” e apontou a necessidade de promover um ambiente mais saudável e resiliente para as crianças enfrentarem os desafios emocionais.
Medicação desenfreada
O psiquiatra explica que a questão central não reside no mercado farmacêutico em si, mas na deficiência na formação dos profissionais e médicos que integram essa área. Pablo Vinicius ressalta: “É como se nós dois aqui abríssemos uma empresa para vender determinado medicamento, é o nosso negócio. Ao final do mês, naturalmente, buscaríamos vender mais para obter lucro.” Ele destaca a busca pelo lucro como um componente natural do meio empresarial. No entanto, ele enfatiza que o cerne do problema está na prescrição desses medicamentos. “O problema está naqueles que prescrevem, naqueles que definem quem necessita ou não de um medicamento”, enfatiza.
Pablo compartilhou um estudo recente realizado por uma colega farmacêutica, ele ressalta a importância de compreender que medicamentos psiquiátricos não devem ser indicados para qualquer dor ou sofrimento humano, mas sim mediante critérios específicos de uma doença psiquiátrica. Expressando preocupação em seu consultório, destaca que muitos pacientes buscam uma “solução rápida” para suas dores emocionais, sem necessariamente atender aos critérios diagnósticos para o uso desses medicamentos. “Isso cria um ciclo vicioso onde cerca de 60% das pessoas que usam antidepressivos não têm uma justificativa diagnóstica clara para esse uso”, alerta. Ele ressalta ainda que essa problemática não está restrita à psiquiatria, mas permeia outras especialidades médicas, tornando-se um ciclo complexo que vai além da responsabilidade da indústria farmacêutica.
Afinal o que é a Loucura?
Marcos questionou o que seria de fato a loucura. O médico respondeu detalhando a visão técnica dentro da psiquiatria: “Quando nos referimos ao termo ‘doido’ ou ‘louco’ na psiquiatria, estamos abordando diagnósticos específicos que o leigo normalmente associa a essa ideia. Por exemplo, a esquizofrenia é um desses quadros frequentemente associados à percepção de ‘loucura'”, explicou Pablo Vinicius. Ele prosseguiu explicando que a ‘loucura’, nesse contexto, se caracteriza pela perda do senso crítico e da razão no dia a dia, mesclando pensamentos irreais como se fossem reais, destacando-a como uma ruptura com a realidade. No entanto, alertou que nem todo sofrimento mental se enquadra nessa definição. Pablo enfatizou a importância de debater esse tema com cuidado, não somente em setembro (mês de prevenção ao suicídio), mas também nas instituições de ensino, para evitar o estigma associado à palavra ‘loucura’. O psiquiatra chamou a atenção para a utilização cautelosa desse termo na prática médica, sublinhando que rotular comportamentos como ‘loucura’ pode desvalorizar a profissão e minimizar a complexidade dos diagnósticos específicos caracterizados pela ruptura com a realidade na psiquiatria.
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