No total, são três candidatos com o nome do presidente dos Estados Unidos. Não há Biden mas há 18 Obama. E 185 Lula, 84 Bolsonaro, a Capitã Cloroquina, o Advogado de Deus, muitos Batman e Hulk no habitual desfile de bizarrias tropicais
De um lado, Lucas Mosquini, deputado federal eleito pela Rondônia e espécie de celebridade no estado do norte do Brasil; do outro, o candidato ao terceiro mandato como vereador em Mirante da Serra em quem o parlamentar aconselha o voto. “É um grande amigo, uma pessoa espetacular, uma figura lendária”, introduz Mosquini, “ele é o Cagado” [assim mesmo, sem acentos]”. Cagado não esboça um único sorriso, como se o seu nome de guerra na política fosse o mais normal possível, nem mesmo quando Mosquini diz que “em três mandatos ele não fez nenhum cagada”.
Veja Também
Senado pode votar mudança na concessão de transporte interestadual
A impavidez de Cagado perante a sua inusitada alcunha [na verdade chama-se Hilton Paiva] é a prova de que nas eleições do Brasil, sobretudo as municipais, a loucura é a norma.
Conheça o CAGADO, candidato a vereador em Rondônia pic.twitter.com/2U8NRLTGoP
— Humor em PVH (@humorempvh) October 21, 2020
Por isso não é de estranhar a presença de um Capeta, mas também de um Advogado de Deus, entre os cerca de meio milhão de candidatos aos cargos de prefeito e de vereador nos 5570 municípios do país. Em compilação do jornal Correio Braziliense são referidos um Gato Preto, um Cachorro Quente, um Bobó Baiano da Oficina, um Pé de Pato do Lixo, um Gordinho da Usina, um Tadeu Tô Contigo, um Sallim Solução Amor no Coração, um Professor Goiaba, uma Capitã Cloroquina, fã do medicamento, um Marcos Smoke, pela liberação da maconha [canabis], um Merda, que não concorre na mesma cidade de Cagado.
Há também os jingles extraordinários, como o de Nairon de Souza, candidato a vereador em Esteio, no Rio Grande do Sul, que viralizou nos grupos de Whatsapp: “Oh Nai-roooon, oh Nai”, ao mesmo ritmo de All Night Long, de Lionel Richie.
E os slogans arrasadores, ao ponto de poder decidir uma eleição, como o de Tia Carmen, ex-dona da boite Carmen Club, de Porto Alegre: “Tia Carmen, Dona do Puteiro: Vote em mim ou eu conto”.
Um dos slogans que mais vem viralizando é de um candidato, de Matinhos, Santa Catarina, que nem participa nas municipais deste ano. No entanto, o lema de Cassiano Piccolo, que nasceu com deficiência de crescimento, ficou na memória: “vota Anão, dos males o menor”, na esteira do raciocínio de Tiririca, o palhaço eleito e reeleito deputado federal com o slogan “vote em mim, pior do que está não fica”.
O jornal Folha de S. Paulo lista ainda o caso do cartaz eleitoral de um candidato a vereador em Santa Maria da Vitória, na Bahia, o Neguinho Celular, que se apresenta entre fotografias de Lula da Silva e Jair Bolsonaro sob o lema “Juntos Somos Mais Fortes”. “É só para fazer piada”, justifica Neguinho.
Continua depois da Publicidade
Os epítetos “Lula” e “Bolsonaro” são, aliás, dos mais usados nas eleições: há, segundo o jornal Congresso em Foco, com base em extensa pesquisa da jornalista Cecília do Lago, 185 candidatos a carregar o nome do antigo presidente e 84 o do atual chefe de estado.
Três dos 84 Bolsonaro, no entanto, são-no de verdade, ou quase: um é Carlos Bolsonaro, segundo filho do presidente, candidato a vereador no Rio de Janeiro, outro é Rogéria Bolsonaro, mãe de Carlos e primeira mulher do presidente, também concorrente na Cidade Maravilhosa, e Marcos Bolsonaro, um primo da cidade de Jaboticabal que, por erro de grafia no cartório, se chama na verdade Marcos Borsonaro, cuja entrevista pode ler no DN amanhã.
Presidentes americanos também foram lembrados: há 18 Obamas e três Trumps. Ronald Trump, um dono de um food truck de Ribeirão Preto, embora concorra pelo partido Patriota, pede o voto num vídeo todo em inglês.
Na sua pesquisa, a jornalista garimpou ainda 8262 candidatos com referências às forças armadas – há sete que usam o nome Pistola.
Pastores são 4360, missionários 536 e padres só 202.
Mas há 194 “de Deus”, entre eles o Advogado referido acima, um “Do Inferno”, dois Diabos Loiros, um Toninho do Diabo, 62 Budas, um Zeus.
No item super-heróis, vence Hulk, escolhido para acompanhar o nome de 26 concorrentes, seguido de 12 Batman e de oito Wolverine.
E estranhamente, oito candidatos têm “do PT” a acompanhar o seu nome mas nenhum pertence ao Partido dos Trabalhadores… Mais estranho? Há 18 candidatos com o nome “Prefeito” (presidente da Câmara, em Portugal) mas desses 11 concorrem a um lugar como vereador.
O caráter local das eleições leva ainda a milhares de aspirantes a um cargo na prefeitura ou nas câmaras municipais com referências como “Da Praia” (88), “Da Feira” (328), “Do Açougue” (363), “Da Peixaria” (394), “Da Padaria” (591), “Do Bar” (1357) e “Da Farmácia” (1672).
E o nepotismo, uma das pechas históricas da política do Brasil, traduz-se em 786 filhos ou filhas de alguém, 76 mães de alguém, 137 pais de alguém e uma avó de alguém.
O futebol, por sua vez, já não é o que era: só há 25 “do Flamengo”, ex-clube de Jorge Jesus, um “do Fluminense”, 16 “do Corinthians”, cinco “do Palmeiras”, do treinador português Abel Ferreira, e três do Vasco, de Ricardo Sá Pinto.
Conforme é fácil de perceber pelas linhas anteriores, no Brasil os candidatos às eleições municipais não precisam, portanto, de concorrer com o nome registado na certidão de nascimento.
Veja Também
Mais podridão de Marconi Perillo no governo de Goiás é descoberta por Caiado
Pelo contrário, nas presidenciais há essa obrigatoriedade, razão pela qual, candidatos como Luiz Inácio da Silva foi obrigado a juntar oficialmente o diminutivo “Lula” ao nome, e Maria Osmarina Silva, passou a Maria Osmarina Marina Silva, por exemplo.
Mais notícias sobre as eleições acesse Imparcial Eleições 2020
Com informações do Diário de Notícias